domingo, 21 de fevereiro de 2016

No mundo virtual contra a depressão


Pacientes tratados com a ajuda de duas novas tecnologias apresentam melhora significativa dos sintomas da doença

Cilene Pereira (cilene@istoe.com.br)
Duas novas tecnologias estão sendo usadas com sucesso contra a depressão. A primeira é a realidade virtual, e segundo experimento realizado na University College London, na Inglaterra, reduz de forma importante os sintomas da enfermidade. A outra é o Skype. Médicos do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo (HC/SP) verificaram que o recurso pode substituir a consulta presencial sem qualquer prejuízo, melhora a adesão do paciente e reduz os índices de desistência do tratamento.
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PRATICIDADE
Acima, o psiquiatra Wagner Gattaz, que faz consultas por Skype no HC/SP
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A terapia virtual consiste em fazer com que a pessoa se submeta a uma imersão em um ambiente virtual construído para que ela atinja objetivos determinados. No caso de fobias, por exemplo, ela é exposto ao que lhe causa pânico até que não tenha mais medo. Em relação à depressão, o trabalho tinha por meta desenvolver nos pacientes a autocompaixão e menos autocrítica. Um dos traços mais comuns em pessoas depressivas é o rigor excessivo no julgamento de seus atos. O sentimento agrava as sensações de impotência e pessimismo que fazem parte dos sintomas.
Foram usados dois avatares (personagens virtuais), um adulto e uma criança estressada, chorando. Primeiro, o paciente via-se sob a perspectiva do adulto e era estimulado a consolar a criança, expressando compaixão por ela. Depois, trocava de lugar: assumia a posição da criança e ouvia o adulto dizer a ela as mesmas palavras. “Isso permitiu a eles experimentar a autocompaixão a partir da própria perspectiva”, disse à ISTOÉ Chris Brewin, coordenador da pesquisa.
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JOGO 
Acima, tela com avatares: imersão num ambiente virtual para atingir o objetivo
No Brasil, o psicólogo Christian Kristensen, da PUC/RS, também vê o recurso como algo promissor. Ele coordena um trabalho que usa a realidade virtual para tratar estresse pós-traumático de bancários ou clientes de bancos que passaram por assaltos dentro das agências e coleciona histórias bem-sucedidas. “É um recurso interessante porque permite que o paciente seja exposto, mas em ambientes controlados”, afirma.
No HC/SP, o estudo com o Skype envolveu 107 pacientes que haviam participado de duas consultas presenciais. Mais de 80% levavam até quatro horas entre deslocamentos para chegar à instituição. Após um ano submetendo-se a sessões mensais por meio do Skype de cerca de vinte minutos cada, 3% tinham abandonado o tratamento, contra 7% do grupo que fazia sessões presenciais. “É um meio eficaz pela facilidade do manejo que proporciona”, diz o psiquiatra Wagner Gattaz. Um dos empecilhos à disseminação do método é a proibição pelo Código de Ética Médica da realização de consultas não presenciais. “Mas não há razão para isso. No mundo há mais de 200 serviços de telepsiquiatria”, diz Gattaz.
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FOTO: FEIPE GABRIEL 

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